quinta-feira, 3 de março de 2011

Gênios I

I
    Estava em decisão. Um velho de aparentes oitenta anos sentava-se na outra lateral da mesa. Seus três alunos riscavam blocos de folhas.
    O colégio interno Mrs. P. R. Moore já abrigara vários alunos geniais, no entanto, nunca três ao mesmo tempo e, se houvesse três gênios, dois inevitavelmente morreriam: aqueles que errassem todas as questões.
    Porém, nenhuma bomba explodiria, nenhum gatilho seria apertado, nenhuma adaga seria adejada. Haveria somente uma forma de manter o sobrevivente.
    O relógio tiquetaqueava vagarosamente no alto da parede. O grafite tracejava as folhas. A penumbra inundava os quatro e a tensão lhes gotejavam nas faces.
    O velho se endireitou e esboçou um sorriso fino na boca desdentada. O coração apertava-lhe o peito abaixo de seu terno negro. Pairava-lhe sob a face um ar perspicaz, astuto e sereno. Os olhos vagos observavam seus melhores alunos.
    Nellinger: Agilmente perpassava os olhos em sua provável ultima prova. As respostas eram dadas numa habilidade surpreendente. Mesmo que a prova não fosse por tempo, ele a preenchia como se fosse. Às vezes mirava os outros rostos. Ele ocupava o lado esquerdo da mesa.
    Edward: Atrás dos óculos fundos-de-garrafa, lia cada questão como máquina e as respondia com igual forma. Seus olhos eram minimizados a um diâmetro como os olhos de um animal pequeno. Na mão desocupada, manuseava uma moeda fazendo prestidigitações de um dedo a outro. Fitava austero seu professor a sua frente. Ed sentava-se no meio.
    Nicholas: O rosto brando mostrava confiança e frieza. Cabelos lhe cobriam os olhos e estes pareciam fechados e pensantes. Ao contrario dos outros supostos condenados, não respondia as alternativas ou sequer as lia. Um sorriso sem importância cobriu-lhe a face. Cerrou o punho e o sorriso dissolvera-se. Ocupava a lateral direita.
    A escola interna fora fundada por volta de 1843 e formava alunos inteligentíssimos. Na maioria das vezes, formava um gênio por ano. Uma rara escola. Os renomes de seus alunos geraram gerações de novos professores, filósofos ou matemáticos. Ou ambos. Mas estes foram logo buscados.
Fillber W. House, quando descobrira uma constelação – por volta de 1852 - antigamente utilizada para previsões e as achava coerentes, fora assassinado por fieis acusado de bruxaria com 38 anos.  
Kord Heiselmann, após relato “absurdo” – segundo governantes - sobre o novo sistema político de 1888 fora condenado a morte aos 22 anos.
    Neil Coffey, depois de descobrir a formula da cura para as infecções causadas pela peste de 1897, fora trancado em laboratório pelo seu aprendiz e morreu de fome. Tinha 19 anos.
    Estes casos de assassínio preencheram folhas de notícias das províncias próximas do instituto e também longínquas. Fill, Neil e Kord foram gênios do colégio há cerca de dois séculos trás, mas estas foram as únicas mortes que se tem noticia. A escola as ocultava, pois tornara-se tradição a morte de seus estudantes formados. Eram inevitáveis mortes, inexplicáveis. Era como se o assombro da morte seguisse aquele com diploma.
    Um dos estudantes menos geniais chamado Norse Winter manteve-se na escola. Somente assim sobreviveria. Norse tornara-se professor, tinha oitenta anos e apenas ele teria a resposta. A oportunidade estava na sua frente. Três jovens. Dois certamente morreriam.

Um comentário:

  1. Uma Mente livre escreve, outra mente presa acha genial. A.E

    http://paradigmasuniversal.blogspot.com/

    obrigado

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