Me fiz essa pergunta depois de
pensar na resposta, pois as coisas se encaixaram bem, e é algo interessante de
se falar e tudo mostra como o ambiente a nossa volta tem o poder de nos ajustar
à metáforas cabíveis ao limiar de nossa mente. Então, antes de me perguntar
literalmente, eu me pus numa situação onde eu tinha que passar pelo ambiente
que resumiria minha mente e não sei se algum especialista teria a curiosidade
de tentar decifrar o que cada aspecto é, se é que isso seria possível, mas nem
mesmo eu conseguiria interpretar alguns detalhes. Mas você já parou para pensar
que tipo de imagem se passa na sua cabeça quando você pensa na própria mente? A
princípio me pareceu difícil de imaginar, no entanto, as coisas começaram a fluir de maneira
persistente e eu não podia parar até descobrir tudo, e cheguei a uma conclusão
um tanto estranha das coisas, que pode ser considerada confusão, exatamente.
Vou tentar descrever como é aqui dentro da melhor maneira possível.
Quando infiltro nesse momento em
minha mente - coisa que eu acho que é mutável considerando as experiências de
vida -, me vejo num corredor de madeira escura, que é bem envernizado, e há
alguns reflexos diante de mim. Adiante vejo uma continuação a qual não tenho
certeza, mas há pouca luz até determinado trecho e depois não há mais nada, a
não ser
escuridão.
Minha visão não é normal, parece que tudo é visto de uma perspectiva convexa,
as imagens diante de mim são circulares,
tortas, mas nítidas de mesma forma. Não arrisco olhar para trás, embora mais
tarde eu descubra o que há de fato atrás de mim nesse trecho inicial, nesse
começo. Bom, prossigo meus passos, ainda nessa perspectiva convexa de ver as
coisas. Ando pelo corredor a passos defeituosos, como que se eu tivesse algum
problema para caminhar, mas não tenho, acontece que quando caminho por dentro
de minha mente, eu desejo ser cauteloso, como se que minhas pernas, ao
caminhar, pudessem romper e eu perdesse tudo. Mas como eu ia dizendo, eu
prossigo meus passos nas imagens metafóricas de minha mente, adentro no portal
que via escuro antes. Aos primeiros cinco passos, a iluminação do corredor já
me permite ver as coisas, como que se a luz, viesse de meu eu que caminha, eu
sou a minha própria fonte de luz, ou qualquer definição relativa a isso. À
minha direita, começo a ver Livros, exatamente, livros de capa dura, que com
minha experiência em manipular alguns, eu julgaria que cada um deles tem cerca
de 600 a 800 páginas, mas não tenho a precisão exata, a não ser essa estimativa
intuitiva. Mas eu sei a quantidade de livros. Não são muitos. São três, cujas
capas variam nos tons azuis, indo de um escuro ao mais escuro dos azuis, sem perder
essa identidade, ou tornar-se preto. Os livros estão em pé, um colado no outro,
em cima de uma base similar a uma prateleira, embora, não seja uma prateleira,
mas uma madeira para sustentá-los. À esquerda, nada vejo, sei que há alguns quadros,
mas não identifico pessoas ou cenários tracejados neles, vejo as molduras e sei
que eles estão preenchidos, mas não como. Enfim, eu caminho mais com meus
passos lentos, como que se mancasse como disse antes.
Ainda naquela visão espectral,
convexa, porém nítida, caminho mais um pouco, estou aos poucos, logo percebo,
caminhando uma curva à esquerda, mas não subo nem desço, apenas descrevo a
curva. Nesse instante, nada aparece à direita, a não ser a parece de madeira,
num estilo clássico, tudo é rústico. Há uma sombra manchando o escanteio à
minha direita. No entanto à esquerda, velas ou tochas, ou algo parecido, bruxuleia
chamas claras, amarelas, quase brancas, mas eu não chego a manter foco nelas.
Antes de continuar, eu sei que isso parece um sonho, mas não é. São imagens que
vem à tona em minha mente quando penso em meus pensamentos, e procuro não
manipular nada dessa imaginação é tudo cru, são as primeiras coisas que me vem em
mente, quando penso em minha própria mente. Isso não é um sonho.
Certo, passei dessa parte.
Caminho claudicante à frente. Sei que não há perigo de queda, embora eu
desconfie da escuridão à direita, e ache que ela me puxe. Prossigo
cautelosamente. Vinha visão ainda não voltou ao normal, o que me deixa com uma
sensação de estranheza. Adiante, uma porta fechada toma conta de minha total
visão. Não que ela seja grande, mas nesse instante, é tudo o que me importa,
basta eu olhar para a maçaneta que tem um aspecto dourado e seu desenho seja
algo como uma flor de diversas pétalas, que eu sei o que há do outro lado, como
uma visão do meu futuro - ou passado-, porém sem uma certeza absoluta da visão.
Puxo a maçaneta, virando-a para direita, mas a porta não abre, então lembro-me que
tenho a chave no meu bolso esquerdo, é enorme e metálico, pesado. Encaixo no
fecho da porta e giro tendo aquela sensação de satisfação ao fazer as
engrenagens girarem e destrancarem a porta. Abro-a enfim já esperando algo. Não
vejo nada como no início. Não há luz alguma, a não ser a alguns metros a minha
frente, nada que me ajude a ver adiante. Adentro deixando para trás a porta.
Agora já posso ter certeza da
imagem. O corredor ainda é estreito, parece ter pouco mais de um metro e meio.
Se eu esticar os braços para os lados, não consigo tocar nenhuma das paredes,
as curvas prosseguem para a esquerda. Agora, na parede esquerda, vejo algo como
se fosse um mural, há milhares de fotos, mas algumas não são nítidas e a parte
de cima, parece estar rasgada por pouco mais de um metro, como que se
arrancassem o papel de parede naquela parte. No chão, há algumas fotos
perdidas, também que sei que é de alguém importante, que já foi importante.
Pego-as do chão e as rasgo. Mas não sei porque o faço. Mas jogo as partes
rasgadas novamente ao chão contemplando os pedacinhos por um instante, depois
prossigo.
Me dá uma vontade de ir passando
a mão na parede, mas sem olhar. Quando faço isso algumas outras fotos caem, não
que eu tivesse intenção de fazê-lo, mas
ignoro-as, deixando para trás. De repente, não sou mais eu. Me vejo em terceira
pessoa. Visto negro de ombros à pés e como que se me filmassem da parede
direita, meu percurso. Por essa terceira visão, eu não manco mais, ando
normalmente, embora minha visão seja fixa num ponto e eu caminhe feito um
sonâmbulo.
Ando continuando meu rumo pelo
corredor sempre virando a esquerda numa curva discreta. De repente, ainda me
vendo, acho folhas no chão, jogadas, algumas queimadas, mas que de súbito, como
que se por medo de um arrependimento, fosse apagado o fogo, antes que interferisse
nas palavras ali escritas e arruinasse toda a interpretação. Ele (eu) para por
um instante. Olha para baixo, se recosta na parede, pega qualquer papel ali,
pois nenhum necessariamente lhe chama a atenção e os lê, tem os braços
recostados nos joelhos e lê a folha. Um sentimento de nostalgia ou algo que o
enfraquecesse o toma, ele quase amassa a folha, mas a deixa cair displicentemente,
parece que vai chorar. Coloca a palma da mão cobrindo os olhos, o polegar da
mão direita na sobrancelha direita e o indicador no final da sobrancelha
esquerda. Passa esses dedos apertando os olhos, suspira e se levanta. Não há
nada para se fazer ali. Ele caminha por um tempo, e de repente já não é algum
terceiro torno-me eu novamente, a visão convexa persiste.
Dou-me conta, finalmente de que
estou sozinho em minha mente, isso depois de ver algo como uma abóboda do
período gótico acima de um portal que me levaria a outro ambiente, uma luz
vermelha se esvai dali, e há um perfume gostoso também. Sinto um sorriso em
minha face e continuo, agora, de maneira normal, sem aquela deficiência. Vejo
mulheres, ah, mulheres em vários lados, há fontes e chafarizes também, parece
ser um salão, um salão decorado com esculturas belas, de bebês nus, despejando
água pela boca. As moças que ali se encontram que não ouso citar os nomes,
embora eu saiba quem seja algumas delas ali, vestem vermelho, um vestido
vermelho e todas me olham com uma expressão de desejo, mas como que se
tentassem não fazê-la, há algumas com
máscara também, parecem querer destacar seus seios de alguma forma. Eu amo cada
uma delas, outras eu tenho menosprezo e procuro fugir o olhar. Parece que fico
anos naquele ambiente, contemplando-as de maneira extática, elas me cercam, mas
mantém uma distância de aproximadamente sessenta centímetros de mim, como que
se algo de dentro de mim as bloqueasse de passar dessa distância. Quando vou-me
embora, logo mais, algumas se despedem de mim e me beijam calorosamente me
abraçando com um desejo belo, mas eu sei que tenho que ir, e elas ajoelham no
chão chorando por minha partida. Todas de vestido vermelho.
Novamente, a saída prossegue após
uma curva à esquerda. Há uma neblina saindo do lugar e escuto um som surdo,
como que se eu escutasse tudo através de um copo de vidro. Sei que as pessoas
conversam e há música. O ambiente é totalmente agradável. No mais, sei que meus
amigos estão ali, dando risada. Resolvo adentrar pelo portal novamente. A esse
ponto, não é difícil continuar, não hesito em nenhum instante em caminhar. É
tudo agradável. Saúdo cada um deles em particular como sempre faço, seguido de
um entusiasmo sincero. Existe alguém junto que não está mais entre nós, não exatamente.
A pessoa não morreu, mas está longe. Dentro de mim, ela está conosco, no espaço
entre amigos e eu amo abraçá-la.
Lá
dentro, sei que tenho uma liberdade total. Ando por onde quero e como quero e
falo e faço o que quero como quero. É como que se eu voasse. Mas não me
mantenho muito tempo ali. Tudo acaba rápido e me despeço com um aceno geral a
todos eles. Eles não se importam que eu vá, se despedem alegremente. Eles têm
certeza de que eu voltarei. Novamente me ponho num corredor que descreve uma
curva à esquerda e caminho e caminho.
Subitamente, me deparo com uma
pessoa, vou até ela e a atravesso. E outra, e outra, e outra, e outra, e outra,
e outra, e outra, e outra, e outra, e outra... várias delas, eu corro passando
dentro de cada uma delas prosseguindo sempre o corredor à esquerda, fazendo a curva.Eoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutra...
E outra. Finalmente paro, porque
há um abismo que quase caio, mas que pulo, deixando-o para trás. Ele era muito
fundo, não perco tempo para descobrir o que ele realmente era. Por fim, vejo
outra porta. Hesito olhar para trás, mas olho. Todas as centenas de pessoas
estão de costas, separadas de mim com um abismo. O abismo começa a aumentar.
Sei que há uma porta à frente. O abismo vai me pegar CUIDADO! -ouço -, eu corro
mais, ele me segue, me distancia das pessoas e finalmente avisto a porta. Creio que seja a última, pois
minha mente nada mais me revela quando busco as demais respostas, agora, não nesse
instante. Chego na porta. Meu eu oscila de primeira para terceira pessoa.
Quando em terceira vejo o abismo a me perseguir. Há algo de errado com a porta.
Ela não abre. O abismo está a três centímetros de mim. Claustrofobia.
Desespero. Eu abro a porta e me vejo de costas prestes a caminhar e entro em
mim. A visão volta a ser convexa, mas eu sei que não devo olhar para trás, o
portal é o inicial... a visão inicial, o sentimento inicial. Minha mente, eu
descobri... anda em círculos. E é tudo um corredor que vira-se a esquerda e
acaba onde começa. E tudo está a minha
frente outra vez, como o que está atrás.
É estranho pensar em nossa mente
como um todo, como uma imagem, como experiências, mas essas são as metáforas
que surgem em minha mente, quando penso NA MINHA MENTE, e eu tive essa
"experiência" de pensar no assunto. Mas...
E quanto a você? Como você se enxerga
dentro de si? Você se vê como se enxerga? Como é? Me conte.
Eu
estou andando em círculos...