terça-feira, 21 de junho de 2011

A Viagem Horrenda


- O ônibus chegou - disse Eric apontando para o veículo se aproximando do estacionamento e a suspensão soprando num chiado forte. O cheiro de diesel pairava no ar, e Alice disse:
- Será que a gente deve mesmo ir, Eric, neste ônibus ? Podemos esperar o outro, é melhor, mais confiável e...
- Precisamos, não, é? - respondeu Eric -  Não dá para ficar aqui.
Eles estavam dentro do ônibus, na rodovia SP-127 já fazia uma hora, o ônibus corria a 80 por hora, no limite de velocidade e Eric disse com normalidade exagerada:
- Não é tão ruim assim, só range um pouco! Dá até para dormir!
Ela se aconchegara. Tinha que admitir:
- É mesmo. Não é tão ruim, o estofado até que é confortável afunda, até.
Dormiram um pouco durante a viajem. Acordaram no meio do caminho com o ônibus bambeando.
- Ah - resmungou Eric. - Já estamos quase chegando.
- Eric! Eric, estou com um mal pressentimento, o ônibus está rangendo muito!
- Estava contente lá naquela cidade, Alice? Tente voltar a dormir.
Cinco minutos depois Alice não estava mais com ele. No ônibus nem havia banheiro sequer.
Sua expressão era de desespero quando notara que estava sozinho no ônibus. Só um homem ossudo na outra fila de assentos.
Eric tentou mandar uma mensagem por celular, mas não dava, o celular, mesmo funcionando, ligado, estava sem sinal. Sem sinal.
Ele ficou ainda mais desesperado, tentando levantar-se do banco, mas estava acorrentado por seu cinto de segurança que o puxava para baixo.
- Ah, socorro! Socorro! - gritava para o homem ao seu lado.
O homem ossudo lançara-lhe um riso fantasmagórico e perverso.
-Você a sequestrou, seu desgraçado! - disse jogando o celular nele.
O homem sumiu. Ele emitiu um grito histérico.Tentou soltar-se. Era inútil.
Ao olhar pela janela pedindo socorro, viu que estava quase chegando.
A pressão do cinto em seu corpo continuou puxando-o para dentro como areia movediça. Podia sentir o ferro entrando na carne das pernas.
O ônibus era assassino, o homem um fantasma.
Quando estacionou, já estava enterrado. Eric e Alice foram dados por desaparecidos e agora suas fotos estão nos pedágios e muros de rodoviárias. Foram vistos pela última vez na rodoviária.
O homem ossudo voltara naquela risada no mesmo assento.
Uma mulher e seus dois filhos entraram no ônibus.
E ele as esperava dormir.