segunda-feira, 26 de março de 2012

Como você descreveria sua mente?


Me fiz essa pergunta depois de pensar na resposta, pois as coisas se encaixaram bem, e é algo interessante de se falar e tudo mostra como o ambiente a nossa volta tem o poder de nos ajustar à metáforas cabíveis ao limiar de nossa mente. Então, antes de me perguntar literalmente, eu me pus numa situação onde eu tinha que passar pelo ambiente que resumiria minha mente e não sei se algum especialista teria a curiosidade de tentar decifrar o que cada aspecto é, se é que isso seria possível, mas nem mesmo eu conseguiria interpretar alguns detalhes. Mas você já parou para pensar que tipo de imagem se passa na sua cabeça quando você pensa na própria mente? A princípio me pareceu difícil de imaginar, no entanto, as  coisas começaram a fluir de maneira persistente e eu não podia parar até descobrir tudo, e cheguei a uma conclusão um tanto estranha das coisas, que pode ser considerada confusão, exatamente. Vou tentar descrever como é aqui dentro da melhor maneira possível.
Quando infiltro nesse momento em minha mente - coisa que eu acho que é mutável considerando as experiências de vida -, me vejo num corredor de madeira escura, que é bem envernizado, e há alguns reflexos diante de mim. Adiante vejo uma continuação a qual não tenho certeza, mas há pouca luz até determinado trecho e depois não há mais nada, a não ser
escuridão. Minha visão não é normal, parece que tudo é visto de uma perspectiva convexa, as imagens diante de mim  são circulares, tortas, mas nítidas de mesma forma. Não arrisco olhar para trás, embora mais tarde eu descubra o que há de fato atrás de mim nesse trecho inicial, nesse começo. Bom, prossigo meus passos, ainda nessa perspectiva convexa de ver as coisas. Ando pelo corredor a passos defeituosos, como que se eu tivesse algum problema para caminhar, mas não tenho, acontece que quando caminho por dentro de minha mente, eu desejo ser cauteloso, como se que minhas pernas, ao caminhar, pudessem romper e eu perdesse tudo. Mas como eu ia dizendo, eu prossigo meus passos nas imagens metafóricas de minha mente, adentro no portal que via escuro antes. Aos primeiros cinco passos, a iluminação do corredor já me permite ver as coisas, como que se a luz, viesse de meu eu que caminha, eu sou a minha própria fonte de luz, ou qualquer definição relativa a isso. À minha direita, começo a ver Livros, exatamente, livros de capa dura, que com minha experiência em manipular alguns, eu julgaria que cada um deles tem cerca de 600 a 800 páginas, mas não tenho a precisão exata, a não ser essa estimativa intuitiva. Mas eu sei a quantidade de livros. Não são muitos. São três, cujas capas variam nos tons azuis, indo de um escuro ao mais escuro dos azuis, sem perder essa identidade, ou tornar-se preto. Os livros estão em pé, um colado no outro, em cima de uma base similar a uma prateleira, embora, não seja uma prateleira, mas uma madeira para sustentá-los. À esquerda, nada vejo, sei que há alguns quadros, mas não identifico pessoas ou cenários tracejados neles, vejo as molduras e sei que eles estão preenchidos, mas não como. Enfim, eu caminho mais com meus passos lentos, como que se mancasse como disse antes.
Ainda naquela visão espectral, convexa, porém nítida, caminho mais um pouco, estou aos poucos, logo percebo, caminhando uma curva à esquerda, mas não subo nem desço, apenas descrevo a curva. Nesse instante, nada aparece à direita, a não ser a parece de madeira, num estilo clássico, tudo é rústico. Há uma sombra manchando o escanteio à minha direita. No entanto à esquerda, velas ou tochas, ou algo parecido, bruxuleia chamas claras, amarelas, quase brancas, mas eu não chego a manter foco nelas. Antes de continuar, eu sei que isso parece um sonho, mas não é. São imagens que vem à tona em minha mente quando penso em meus pensamentos, e procuro não manipular nada dessa imaginação é tudo cru, são as primeiras coisas que me vem em mente, quando penso em minha própria mente. Isso não é um sonho.
Certo, passei dessa parte. Caminho claudicante à frente. Sei que não há perigo de queda, embora eu desconfie da escuridão à direita, e ache que ela me puxe. Prossigo cautelosamente. Vinha visão ainda não voltou ao normal, o que me deixa com uma sensação de estranheza. Adiante, uma porta fechada toma conta de minha total visão. Não que ela seja grande, mas nesse instante, é tudo o que me importa, basta eu olhar para a maçaneta que tem um aspecto dourado e seu desenho seja algo como uma flor de diversas pétalas, que eu sei o que há do outro lado, como uma visão do meu futuro - ou passado-, porém sem uma certeza absoluta da visão. Puxo a maçaneta, virando-a para direita, mas a porta não abre, então lembro-me que tenho a chave no meu bolso esquerdo, é enorme e metálico, pesado. Encaixo no fecho da porta e giro tendo aquela sensação de satisfação ao fazer as engrenagens girarem e destrancarem a porta. Abro-a enfim já esperando algo. Não vejo nada como no início. Não há luz alguma, a não ser a alguns metros a minha frente, nada que me ajude a ver adiante. Adentro deixando para trás a porta.
Agora já posso ter certeza da imagem. O corredor ainda é estreito, parece ter pouco mais de um metro e meio. Se eu esticar os braços para os lados, não consigo tocar nenhuma das paredes, as curvas prosseguem para a esquerda. Agora, na parede esquerda, vejo algo como se fosse um mural, há milhares de fotos, mas algumas não são nítidas e a parte de cima, parece estar rasgada por pouco mais de um metro, como que se arrancassem o papel de parede naquela parte. No chão, há algumas fotos perdidas, também que sei que é de alguém importante, que já foi importante. Pego-as do chão e as rasgo. Mas não sei porque o faço. Mas jogo as partes rasgadas novamente ao chão contemplando os pedacinhos por um instante, depois prossigo.
Me dá uma vontade de ir passando a mão na parede, mas sem olhar. Quando faço isso algumas outras fotos caem, não que  eu tivesse intenção de fazê-lo, mas ignoro-as, deixando para trás. De repente, não sou mais eu. Me vejo em terceira pessoa. Visto negro de ombros à pés e como que se me filmassem da parede direita, meu percurso. Por essa terceira visão, eu não manco mais, ando normalmente, embora minha visão seja fixa num ponto e eu caminhe feito um sonâmbulo.
Ando continuando meu rumo pelo corredor sempre virando a esquerda numa curva discreta. De repente, ainda me vendo, acho folhas no chão, jogadas, algumas queimadas, mas que de súbito, como que se por medo de um arrependimento, fosse apagado o fogo, antes que interferisse nas palavras ali escritas e arruinasse toda a interpretação. Ele (eu) para por um instante. Olha para baixo, se recosta na parede, pega qualquer papel ali, pois nenhum necessariamente lhe chama a atenção e os lê, tem os braços recostados nos joelhos e lê a folha. Um sentimento de nostalgia ou algo que o enfraquecesse o toma, ele quase amassa a folha, mas a deixa cair displicentemente, parece que vai chorar. Coloca a palma da mão cobrindo os olhos, o polegar da mão direita na sobrancelha direita e o indicador no final da sobrancelha esquerda. Passa esses dedos apertando os olhos, suspira e se levanta. Não há nada para se fazer ali. Ele caminha por um tempo, e de repente já não é algum terceiro torno-me eu novamente, a visão convexa persiste.
Dou-me conta, finalmente de que estou sozinho em minha mente, isso depois de ver algo como uma abóboda do período gótico acima de um portal que me levaria a outro ambiente, uma luz vermelha se esvai dali, e há um perfume gostoso também. Sinto um sorriso em minha face e continuo, agora, de maneira normal, sem aquela deficiência. Vejo mulheres, ah, mulheres em vários lados, há fontes e chafarizes também, parece ser um salão, um salão decorado com esculturas belas, de bebês nus, despejando água pela boca. As moças que ali se encontram que não ouso citar os nomes, embora eu saiba quem seja algumas delas ali, vestem vermelho, um vestido vermelho e todas me olham com uma expressão de desejo, mas como que se tentassem  não fazê-la, há algumas com máscara também, parecem querer destacar seus seios de alguma forma. Eu amo cada uma delas, outras eu tenho menosprezo e procuro fugir o olhar. Parece que fico anos naquele ambiente, contemplando-as de maneira extática, elas me cercam, mas mantém uma distância de aproximadamente sessenta centímetros de mim, como que se algo de dentro de mim as bloqueasse de passar dessa distância. Quando vou-me embora, logo mais, algumas se despedem de mim e me beijam calorosamente me abraçando com um desejo belo, mas eu sei que tenho que ir, e elas ajoelham no chão chorando por minha partida. Todas de vestido vermelho.
Novamente, a saída prossegue após uma curva à esquerda. Há uma neblina saindo do lugar e escuto um som surdo, como que se eu escutasse tudo através de um copo de vidro. Sei que as pessoas conversam e há música. O ambiente é totalmente agradável. No mais, sei que meus amigos estão ali, dando risada. Resolvo adentrar pelo portal novamente. A esse ponto, não é difícil continuar, não hesito em nenhum instante em caminhar. É tudo agradável. Saúdo cada um deles em particular como sempre faço, seguido de um entusiasmo sincero. Existe alguém junto que não está mais entre nós, não exatamente. A pessoa não morreu, mas está longe. Dentro de mim, ela está conosco, no espaço entre amigos e eu amo abraçá-la.
Lá dentro, sei que tenho uma liberdade total. Ando por onde quero e como quero e falo e faço o que quero como quero. É como que se eu voasse. Mas não me mantenho muito tempo ali. Tudo acaba rápido e me despeço com um aceno geral a todos eles. Eles não se importam que eu vá, se despedem alegremente. Eles têm certeza de que eu voltarei. Novamente me ponho num corredor que descreve uma curva à esquerda e caminho e caminho.
Subitamente, me deparo com uma pessoa, vou até ela e a atravesso. E outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra, e outra... várias delas, eu corro passando dentro de cada uma delas prosseguindo sempre o  corredor à esquerda, fazendo a curva.Eoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutraeoutra...
E outra. Finalmente paro, porque há um abismo que quase caio, mas que pulo, deixando-o para trás. Ele era muito fundo, não perco tempo para descobrir o que ele realmente era. Por fim, vejo outra porta. Hesito olhar para trás, mas olho. Todas as centenas de pessoas estão de costas, separadas de mim com um abismo. O abismo começa a aumentar. Sei que há uma porta à frente. O abismo vai me pegar CUIDADO! -ouço -, eu corro mais, ele me segue, me distancia das pessoas e finalmente  avisto a porta. Creio que seja a última, pois minha mente nada mais me revela quando busco as demais respostas, agora, não nesse instante. Chego na porta. Meu eu oscila de primeira para terceira pessoa. Quando em terceira vejo o abismo a me perseguir. Há algo de errado com a porta. Ela não abre. O abismo está a três centímetros de mim. Claustrofobia. Desespero. Eu abro a porta e me vejo de costas prestes a caminhar e entro em mim. A visão volta a ser convexa, mas eu sei que não devo olhar para trás, o portal é o inicial... a visão inicial, o sentimento inicial. Minha mente, eu descobri... anda em círculos. E é tudo um corredor que vira-se a esquerda e acaba onde começa. E  tudo está a minha frente outra vez, como o que está atrás.
É estranho pensar em nossa mente como um todo, como uma imagem, como experiências, mas essas são as metáforas que surgem em minha mente, quando penso NA MINHA MENTE, e eu tive essa "experiência" de pensar no assunto. Mas...
E quanto a você? Como você se enxerga dentro de si? Você se vê como se enxerga? Como é? Me conte.
Eu estou andando em círculos...

2 comentários:

  1. Acho que levantar este questionamento, é o mesmo que carimbar um passaporte para a maior de todas as viagens, ou brisas - dependendo da situação em que se encontra.
    Antes de minha descrição, gostaria de deixar uma outra pergunta no ar: por quê você acha que as pessoas adoram viajar?
    Vamos a experiência:
    É amplo. GRANDE, se é que o capslock consegue de alguma maneira auxiliar a transmitir o que estou vendo. Há prateleiras com caixas marcadas como frágeis. Sei que ali estão as memórias - algumas, nas prateleiras inferiores, empoeiradas. Mantidas unica e exclusivamente para possíveis consultas na posterioridade. Não quero tocá-las, não é meu objetivo aqui.
    Caminhando entre as veias abertas de uma estante para outra, tenho a sensação de estar sendo observado. Mas não é algo que me assusta. Sou dono deste lugar. E é de se esperar que alguém estivesse ali para organizar e catalogar tudo aquilo.
    Onde está? - Seria o que perguntaria se fosse necessário perguntar. O ser se apresenta, saindo detrás da estante que suporta minhas caixas de memórias infantis (4ª SESSÃO - NOSTALGIA).
    Ele sou eu. Ou eu sou ele. Dá na mesma, no final das contas. Veste uma jaqueta de couro - muuuito mais elegante que as que tenho, hehe.
    Não precisamos conversar, realmente, porque estamos cientes de que nossos pensamentos seguem a mesma linha de raciocínio. Eu conheço aquele lugar unicamente porque ele conhece.
    Vamos de um ponto à outro do galpão demoradamente. Nem me lembrava que haviam tantas coisas para serem lembradas!
    Brincadeiras, o primeiro beijo, a primeira paixão, o primeiro assalto, as brigas - a primeira acho que jamais irei encontrarei, - as amizades.
    Amizades.
    Rostos que mantenho por perto até hoje, só porque... Porque... Porque me agradam.
    Se este mundo é meu, porque preciso de motivos?
    Há uma parede pregada em uma porta - o mundo é meu! - com ordem de restrição. "PORRES", é o que está escrito em uma plaqueta metálica, colocada em sua parte superior.
    Me pergunto onde são guardados meus sonhos. Me respondo que não preciso ir até ali para consultá-los, se os mantiver bem próximos de mim enquanto acordado, trabalhando para torná-los realidade e, consequentemente, serem lembranças.
    E aqui tudo fica borrado e decido parar.
    MUITA dor de cabeça.
    Mas obrigado por esta experiência, Klaus. Embora tenha ficado um bocado confuso, acho que farei mais vezes esta visita. Expandir os horizontes deste galpão. Até criar um mundo, quem sabe?
    Um abraço.
    Te amo, cara. :D

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    Respostas
    1. Expandir os horizontes deste galpão. Até criar um mundo, quem sabe? :D

      Vamos, cara.

      Também te amo, mano. Escritoramente. :D

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