Havia uma ansiedade estranha de estar ali,
porém muito comum e que era constante às seis horas da tarde de qualquer dia da
semana. Dávamos boas risadas e suávamos bastante, sempre limpando com o manga
da camiseta, ou com as costas das mãos e depois nas calças. Havia também,
aquele cheiro no ambiente que agora soa incompreendido e que nunca mais senti
depois que minha idade de menino passara. É algo que forma quem sou, mas não
consigo buscar em minha memória no momento, e talvez nem reconheceria se o sentisse
novamente. Ou então sentiria e chorasse pelo reencontro. É uma memória estranha
de se expressar, não sei se você me compreende. O cansaço também nunca mais foi
o mesmo, os músculos apertando de uma maneira confortável, sem falar as dores
nas pernas depois. Como era bom esse momento.
Eu sempre voltava sujo, quero dizer, com terra
nos tênis e na barra da calça, isso quando eu usava calça, lembro-me de às vezes estar com
um short, daqueles que seca rápido. As mãos ficavam pretas, e era muito
desconfortável a sujeira que ficava nas mãos depois de se esconder atrás da
árvore, ou subir nela. A impressão, era de estar sendo seguido e vigiado, por isso
a ansiedade estranha, tínhamos que ser cautelosos, mas nunca éramos. Corríamos
à milhão até onde se bate cara. Melhor ainda era topar com quem bate cara no
lado oposto da árvore, mas era triste, porque não valia nada se você errasse o
ponto. Tínhamos que correr e fazer cumplicidade uns com os outros para vencer
quem estivesse procurando.
Ah, como era agradável esse tempo, em que sorriamos
um para o outro, para os amigos, sem medo, com uma mensagem não verbal naquele sorriso
que demarcava a mutualidade de que você tem um amigo, mas ele te pegou dessa
vez, porque você foi bater, justo no lado oposto da árvore e na hora que isso
acontece, você ri de si mesmo, junto a ele, mas fica bravo também por ter
perdido. Isso acontece com todo mundo, creio. É uma sensibilidade que nunca
volta, que tem aquele cheiro próprio, que faz-nos ter recordações de seu melhor
amigo da infância e que talvez nem sabemos onde ele está ou como está a vida
dele, e não se fala mais com ele, mas que ficam as melhores memórias de uma infância
sem rumo, mas ao mesmo tempo muito
bem encontrada (mesmo nos jogos de esconde-esconde) e pura.
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