quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Blá.

    Ele cambaleou pela rua gelada, abaixo do céu estático, mal-iluminado pela lua crescente em foma de boca.  Sua roupa envelhecera cerca de trinta anos naquele estado, tornando-se trapo em seu corpo, ele prosseguindo pela calçada turva, que parecia tão macia quanto seu leito, em casa.
    -Pfff - arquejara, não conseguindo concluir o raciocínio.
    Parou um instante. A parte superior de seu corpo não respondendo à tempo continuou, ele a colocou no lugar equilibrando-se esboçando uma risada cuja pilhéia já havia esquecido, e ria disso também.
Havia em sua mente, bilhões de palavras a declarar no momento, mas simplesmente, o que quer que dissesse, diria um palavrão xingando o sistema ou a "Vadia da sua mãe", e nada lógico passaria de sua garganta, guardado no baú à chave de sua caixola, mantido lá por muito tempo.
    Seu estômago estava lisonjeado, mas pouco agradecido, resolvendo comprimir-se dando-lhe ânsia. À sua volta, as casas passando como que se fossem parte de um efeito projetado em filmes de baixa renda, em baixíssima velocidade, deixando-o com a sensação de que o mundo girava trinta vezes mais rápido. O vento frio bateu contra seu corpo cômico, desengonçado e fadigado, deixando-o com frio, passou as mãos nos braços, sempre caminhando, cãm-in-hãn-do.
    Atravessou a rua absorvendo a claridade amarela intensa do poste de luz, com as mãos nos braços, quase sendo atropelado por um civíl perdido, tocando Black Eyed Peas no seu Volkswagem rebaixado,  quase bêbado. Hesitou ao subir o meio-fio. As vibrações do som continuaram em sua mente por mais vinte metros e, sem conseguir, tentava acompanhar a letra que ia escutando cada vez menos alta e clara, ou ao menos assim era em sua mente. Dobrou a esquina sentindo um alívio nos olhos ao que o poste apagou sozinho. Olhando as reentrâncias de uma construção, lembrou-se da vez em que seu amigo comeu alguma garota não fazia muito tempo, mudou de lado da rua, como que se o chão fosse feito de areia movediça, mas fitando, imaginando a cena, despontando uma ereção nas calças invonluntária.
    Prosseguiu por mais muito tempo, o dobro para ele, até finalmente chegar em casa. Silêncio e tudo escuro. Andou tateando as paredes até seu quarto e, de súbito...
            

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ganância

- Eu abaixo para 70 mil. Nada menos - disse a corretora repleta de adereços aos recém casados, suas alianças polidíssimas.
- Feito! - disse James contente com a casa que acabava e comprar, beijando a esposa. A corretora, satisfeita, passou o polegar pelos dedos alisando os seus cinco anéis e correspondendo com um sorriso.
Depois de dois meses que moravam na casa, os dois conversavam à noite após fazerem amor.
- Ainda estou me acostumando - dizia ela aninhada a ele.
- Com o que? -falou acariciando eu braço.
- Com a casa... Eu tenho um pouco de medo, James. Aqui era um cemitério. Não gosto de nada disso. Me senti vigiada enquanto fazíamos amor. Uma sensação desagradável.
- Isso é besteira - tentou confortá-la. - Pagamos pouco na casa... Não podíamos estar morando com seus pais ainda. Escuta, logo mudamos, está bem?A firma vai começar a...
Houve um baque de uma porta. Ela soltou um grito.
- O que foi isso, James? Vai lá ver! 
Ele ainda nu levantara-se e foi até a sala, a porta estava aberta. Ele sentiu o frio de fora fazendo-o arrepiar-se. Fechou a porta, a sensação de estar sendo observado invadira-o também.
Érica gritava do quarto.
- Aaah! James, James, socorro! - gritava desesperada - SOCORRO! 
Escutava  as portas e janelas baterem, abrindo e fechando. Todas da casa, e as paredes tremendo violentamente, como num terremoto. James corria até o quarto, mas por trás da pintura da parede, estendeu-se subitamente uma mão esquelética segurando-o e mais outra e outra segurava sua perna nua, saindo do chão. 
Érica gritava. Ele também.
Corpos saíam do solo e das paredes, pútridos, mortos, desfazendo a casa, puxando-os, agredindo-os, absorvendo-os para as paredes, matando-os, deixando apenas roupas suas alianças, as alianças polidíssimas.
James e Érica já faziam parte da casa, as paredes eram cadáveres.

Um mês depois na imobiliária.
- Gostei do seus brincos, Andressa - disse a corretora de imóveis ajustando as pulseiras.
-Obrigada - agradeceu num sorriso. - Bem, qual casa você tem, barata?
- Tenho uma onde era o antigo cemitério, sabe? Faço ela por 85 mil.
Andressa fez uma cara de decepção.
- Quanto você tem? - perguntara a corretora.
-Oitenta mil...
- Se eu reduzir minha comissão fica 82, é o máximo que posso fazer.
- É mesmo? Ótimo. Quero conhecer a casa.
A corretora, feliz, passou o polegar pelos dedos alisando seus sete anéis - dois deles, polidíssimos, dourados -, dando um sorriso...
... Ganharia um par de brincos muito bonitos para seus adereços.

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Viagem Horrenda


- O ônibus chegou - disse Eric apontando para o veículo se aproximando do estacionamento e a suspensão soprando num chiado forte. O cheiro de diesel pairava no ar, e Alice disse:
- Será que a gente deve mesmo ir, Eric, neste ônibus ? Podemos esperar o outro, é melhor, mais confiável e...
- Precisamos, não, é? - respondeu Eric -  Não dá para ficar aqui.
Eles estavam dentro do ônibus, na rodovia SP-127 já fazia uma hora, o ônibus corria a 80 por hora, no limite de velocidade e Eric disse com normalidade exagerada:
- Não é tão ruim assim, só range um pouco! Dá até para dormir!
Ela se aconchegara. Tinha que admitir:
- É mesmo. Não é tão ruim, o estofado até que é confortável afunda, até.
Dormiram um pouco durante a viajem. Acordaram no meio do caminho com o ônibus bambeando.
- Ah - resmungou Eric. - Já estamos quase chegando.
- Eric! Eric, estou com um mal pressentimento, o ônibus está rangendo muito!
- Estava contente lá naquela cidade, Alice? Tente voltar a dormir.
Cinco minutos depois Alice não estava mais com ele. No ônibus nem havia banheiro sequer.
Sua expressão era de desespero quando notara que estava sozinho no ônibus. Só um homem ossudo na outra fila de assentos.
Eric tentou mandar uma mensagem por celular, mas não dava, o celular, mesmo funcionando, ligado, estava sem sinal. Sem sinal.
Ele ficou ainda mais desesperado, tentando levantar-se do banco, mas estava acorrentado por seu cinto de segurança que o puxava para baixo.
- Ah, socorro! Socorro! - gritava para o homem ao seu lado.
O homem ossudo lançara-lhe um riso fantasmagórico e perverso.
-Você a sequestrou, seu desgraçado! - disse jogando o celular nele.
O homem sumiu. Ele emitiu um grito histérico.Tentou soltar-se. Era inútil.
Ao olhar pela janela pedindo socorro, viu que estava quase chegando.
A pressão do cinto em seu corpo continuou puxando-o para dentro como areia movediça. Podia sentir o ferro entrando na carne das pernas.
O ônibus era assassino, o homem um fantasma.
Quando estacionou, já estava enterrado. Eric e Alice foram dados por desaparecidos e agora suas fotos estão nos pedágios e muros de rodoviárias. Foram vistos pela última vez na rodoviária.
O homem ossudo voltara naquela risada no mesmo assento.
Uma mulher e seus dois filhos entraram no ônibus.
E ele as esperava dormir.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Feminismo...

Sei que enterrei o blog e tudo o mais, mas ele ainda está vivo e espero, quando houver tempo, retomá-lo para escrever por aqui.

Por enquanto, deixar-lhes-ei com um mini-conto - ou seja lá o nome que dão - que, ao mostrar para alguns, tive resultados que me animaram muito. Espero que gostem também.

     Ele a espera deitado na cama exibindo-se, está sem roupa alguma. Ele mede o fluxo de si e solta um suspiro. Abaixo de uma luz fraca da lua crescente trespassando a janela, ela surge de trás da parede, caminha suavemente, suas coxas torneadas, nuas, lisas e delicadas o fazem erguer-se e ter a pressão de sangue mais intensa. Ela prossegue, utiliza uma meia-calça até pouco acima dos joelhos e vem aproximando-se. Seu olhar é sexy, sedutor, "é preciso calma", pensa ele. Ela debruça-se na cama, seus seios à mostra balançam-se e ele demonstra um risinho desviando o olhar para ela, sentindo o contato da pele, acariciando corpo a corpo. Ela está linda para ele. Usa maquiagem nos olhos, seus lábios salientes num tom escarlate. E ela o toca. Sobe-lhe a mão pelo abdome, depois pelo tórax, ele sente o toque gelado e gostoso em seu corpo, ela delineia carinhosamente a mão pelo seu pescoço e ele reage eriçando-se. Não suporta tanta atração, quer mais. Ela para com a mão em seu pescoço e seu sorriso se torna maldoso, chega a ser austero e ela pressiona com mais intensidade e vocifera:
- TAMBÉM QUERO MEUS DIREITOS!

quarta-feira, 23 de março de 2011

Gênios III (Fim)


III
- Os três... - A Morte caminhou sorrateira até eles. Os olhos do professor novamente se encheram de lágrimas. Caminhou até outra dependência cuja, como num presídio, era dividida por uma janela de vidro. E falou. Cada um deles ficou de maneira estupefata, como que se a ponta de uma longa agulha os perfurasse. – Os três tiraram zero – Seria agora. Haveria algo, ele descobriria, ou não? Descobriria?
            Ficara por lá, atrás da vidraça embaçada olhando-os através.
            Nellinger não suportara o que ouviu, e viu-se que a morte lhe pôs a mão no crânio. E este, numa ira, pegara a própria caneta e perfurara os pulsos, choroso: Suicídio. A foice sangrava.
            Ed, recuara um passo para trás, e também chorava: a Morte jogou-lhe um bafo frio: - Não! Pode ser! – esbugalhara os olhos diminutos – Idiota! Burro! Burro! – gritava. Esganou o próprio pescoço. Ouvia-se os ossinhos estalando e adejando na carne da garganta. Suicídio.
            Olhando aquilo, triste também, Norse os observava. E quando viu que nenhum mais resistira voltou à sala.
            - Por que você não morreu, Nicholas? – indagou.
            - Por que eu não estudei – fez um sorriso. – Sabia que iria tirar zero, é claro, esperava isso e, bom, decidi ter pelo menos um instante de vida ao estudar, e percebi. Notei que um instante de vida, posso ver pelo sangue que nos rasteja, pode nos dar outros instantes de vida. Até mais professor Norse. Você me ensinou mais do que o estudo da vida. Me ensinou o sentido de vivê-la. Obrigado.
            E não ouviu-se mais falar da escola, ela fechou e tornou-se um museu, que, mais tarde, a Morte que ficara lá, matava quem procurava suas antiguidades. “Aquele lugar já teve vida, a minha” – estava escrita na tumba de Norse Winter.

E assim acaba esta narrativa. Espero que tenham gostado.
Se gostou, escreva um comentário aqui em baixo. Ficarei contente em saber suas opinões.

Obrigado.

terça-feira, 22 de março de 2011

22 de Março

Quantas fazem glop glop agora?
Galopam cavalos marinhos e razam aves brancas
Mas, me diga, quando haverá uma nova hora?
O céu refletido já é pútrido e trava as barcas.

Foi a origem de tudo, certa vez
Dependemos dela, agora
Acho que será o fim, talvez
Se toda ela for embora

Quero ser transparente e límpido
Mas os versos são escassos e feios
Leia a branda superfície em raso nítido
As máquinas mortíferas estão sem arreios

Notou, já, sua falta?
Não digo da água, pobre humano
Falo da sua, que mata
A tí mesmo, seco, em doce paraíso artesiano.

Ponte D'Arco II

    II
Eu e outros tivemos que usar a estrada para dar a volta na cidade para poder ir trabalhar. ELA se apoderou da passagem. Me perguntei se teríamos que deixá-la lá tomando conta da área do rio ou se tomariam medidas para matá-la ou arrumar alguma forma de tirá-la de lá. Mas parecia impossível. Até que tiveram a idéia. Encheram os tanques d’água dos caminhões do corpo de bombeiros com gasolina.
    Muitos se prostraram curiosos, para ver o ataque. Os caminhões avançavam marchando lentamente flanqueando, pelos lados opostos da Ponte d’Arco, Lançaram o combustível e imediatamente, as aracnídeas revidaram num contra ataque: teciam suas teias para proteger sua rainha. Então, em meio ao jato do combustível jogaram fogo, tornando cinzas algumas teias. ELA subira na ponta do arco, tentaram verter a mira para ela. Lançara suas espessas linhas no cano do caminhão e não houve chama que a diluísse. Entupira os dois caminhões. Logo, tentaram recuar de ré, mas ELA saltou numa investida, antes que o motorista escapasse pela porta, e perfurou-lhe o peito, envenenando o banco do automóvel.
    O motorista do outro caminhão conseguiu fugir, mas foi achado morto em sua casa no dia seguinte, encasulado em muitas teias e salpicado por hematomas vermelhos de ferroadas mais que certeiras. Além de tudo, ELA era vingativa.
    Aos poucos, ela foi tomando conta da cidade. Muitas tentativas de ataques falharam, e, casa por casa de suas vítimas formava ninhos para as suas se multiplicarem. A cidade parou. Fora dominada pelas aranhas.
    Péssimo foi o dia em que ELA estava com fome. ELA chiava acima da ponte. Ameaçadora e enraivecida. Tentaram deixá-la morrer de fome, mas isso apenas trazia mais estragos, pois mandava seu exército asqueroso fazer armadilhas para matar crianças. Esta época matou muitos e levou muitos a saírem da cidade até entenderem o que ela, de fato, comia: Sangue animal. Por isso não levara suas vítimas humanas para comer.

( continua...)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ponte D'arco. I

I
ELA havia dado sua empreitada, desta vez, deixando rastro. Recolheram o corpo perfurado como que por uma enorme lança e, aparentemente    seu ferrão era como um metal duro. Ele jazia no banco de seu caminhão envolto de uma espécie de mucosa nauseabunda, fétida e escarlate, que escorrida do teto ao chão do automóvel. O capô estava abaixo duma substância branca e grudenta. Maldita revés do caminhoneiro. Por que passara por debaixo da ponte naquele instante? Ela provavelmente estava adormecida, mas acho que passou todo esse tempo procriando suas filhas cujas funções era proteger o seus lares e, teceram suas teias nas laterais da ponte, que fora interditada depois do ataque. Onde será que ela se manteve por todo esse tempo? Qual toca se aprofundara? Temo que não seja uma toca.
Houve um tempo que por aqui outra ponte tomava o lugar desta. Uma ponte frágil, de madeira ainda. Logo nos primórdios ainda caipiras da cidade. Aconteceu uma tempestade que parecia eterna e era aborrecida: seus relâmpagos no céu noturno causavam trovões que, arrisco dizer, acordara-as. Sim, acordou-as, pois devia haver mais. Então, nesta noite de ira, o rio enchera, e muitos podem discordar de mim, mas espertou-as. Na semana seguinte, o sol estava acalorando as margens do rio – que ainda era límpido – e estas criaturas, enormes, negras, derrubaram a ponte, mas isso pode ser apenas uma lenda para explicar o que há agora.
Construíram, depois, esta ponte cuja arquitetura é resistente: de arco. A Ponte D’arco. Acho que estamos num tempo de horror. Ninguém se arrisca a atravessar para o outro lado. Para o resgate do caminhão, foi necessário dez policiais armados escoltando o cara do guincho que conectara o enorme carro ao caminhão, mas ELA não apareceu.
Dias depois ELA interditou a passagem por si própria suas teias cobriam a ponte com diversas redes e suas filhas a ajudava: Pontos negros no meio da cobertura.

(Continua...) 

Esta, é uma narrativa que se prossegue...

Não deixem de ler!

quinta-feira, 17 de março de 2011

Gênios II

II
Embalagens de chocolate decoravam a mesa ao lado de copos d’água. Era o segundo dia de prova consecutivo sem descanso, excetuando as necessidades de comer e beber. O esforço impregnava a dependência. Para o velho, o mais importante era descobrir a causa dos morticínios da P. R Moores.
    Faltava pouco. Em miseras três horas dois morreriam e seria descoberta a causa. Os segundos contados tiquetaqueando no despertador da morte em contagem regressiva. TIC!TAC! Quem ela escolheria? Estava em decisão.
    Norse admirava que já esteve no lugar deles naquele mesmo lugar, na decisão da vida e da morte. Então optou pela vida, ficando na escola em 1930, mas seria diferente se estivesse saído? Outro sorriso pousou na boca os olhos apertaram e uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo. Ele os fechou com força e abriu-os novamente.
    Nicholas continuava sem fazer a prova, Nellinger por um instante achou que Nick dormira, mas enganou-se e voltou a fazer suas ultimas horas de prova.
    Duas horas e o julgamento se aproximava. A morte empunhava sua foice e cavalgou até P. R. Moores. O vento da noite do lado de fora era gélido e sua montaria estava com pressa.
    O traço risonho na boca de Norse tinha um ar de satisfação e ansiedade. Mantinha os olhos nos alunos, com seus pensamentos ainda no passado. Mais outras lágrimas incharam de seus olhos e caíram no terno.
    A próxima hora se aproximou como o vôo de uma mosca. A foice da morte estava sedenta e o cavalo queria logo regressar, então cavalgava depressa.
     Norse suspirou e retirou os óculos. Teria que olhar uma ultima vez para os três gênios. Seus três alunos.


Continua...

Japão! Ajude-os!

Japan's earthquake: How to help
http://technolog.msnbc.msn.com/_news/2011/03/11/6246445-japans-earthquake-how-to-help

quarta-feira, 16 de março de 2011

Origem

Estavam frente a frente, e como os coelhos fazem, se farejaram, sentindo arrepios e uma boa sensação de conforto. Ril a tocou no rosto, e ela o olhou nos olhos. Ela o pegou pelos ombros e o abraçou, era mais baixa e contemplava os olhos dele olhando para cima. Instintivamente ele tocou os lábios ao pescoço dela. Ela sem confiança, se afastou, mas ele a segurou. E que ternura os tomaram e eles riram, bobamente, mas muito felizes e de corações confortáveis. Ele voltou a fazer, tocara os lábios no lado esquerdo do pescoço, ela deixou-o e,  ele continuou a fazê-lo, subindo na altura do queixo, mas parou ao chegar na boca. E pensou “ A melhor felicidade, o melhor conforto, a melhor segurança e deste sentimento, nos é” e tocou nos lábios dela, delicadamente a beijando. Abraçaram-se mais forte, e fecharam os olhos. Suspiraram duas ou mais vezes de prazer, e ainda com os olhos fechados, viram suas almas se abraçarem e brilharem num azul. E, de um clarão os fez despertar. 

E assim, foi, creio eu, o início da magia do romance, o despertar no qual, sim, houve um início, mas não sabemos onde foi seu meio e porquê tem de haver um fim. 

terça-feira, 15 de março de 2011

Pedra e Bruma

Então, eles seguiram abaixo de uma bruma densa. Tão densa como uma núvem da chuva de primavera. Pela esquerda da íngrime descida, Keliath permanecia apreensivo com a região cujas lendas falavam sobre as bestas arqueiras, e se mantinha em defensiva por trás de Yau-Nat (seu enorme escudo redondo, pelo qual, os Sont haviam forjado noutros tempos); pouco a frente, quase fora da visão de seu grupo, logo na margem do corredor rochoso, furtivamente como um gato que busca sua presa, Anna, filha de Kassia do reinado de Kátia, agarrava no punho de seu sabre, pela qual, a lâmina tinha quase transparência total; para trás ficara Oerdill, O vigilante, distante, que quase como a águia em prontidão, observava através da branca e gélida cortina que os banhava: via no céu azul, quase como um sonho, gaivotas da costa leste, mensageiras da natureza, sobrevoando-os. Respirou fundo e brandiu um bumerangue; ao seu lado, Ehrno, falava sozinho, num cochicho preocupante, mas de branda voz, como que se cantasse baixinho. Então, de seu manto rajado laranja, saíra um espectro de tigre, e este correu campo abaixo eliminando parte da névoa, clareando-a e logo dissipando como fumaça, Oerdill o agradeceu.
  - Vamos - dissera o mago - Taff ainda pode aguentar mais um pouco. Temos que chegar antes de seu rugido. Sigam-no que ele é o guia dessas brumas. 


E logo, eles seguiram adiante, mas quando logo se toparam com o fim da bruma, reboou um som indecifrável, de dar calafrios. Ouviu-se estalos e Yau-Nat crescera, como que por magia de Ehrno, mas o escudo, apenas estava sendo fiel, e ricochetearam virotes de plumas de todas as cores, mas apenas com uma peculiaridade em comum: suas pontas perfurantes, eram de dentes podres...
E assim foi uma narrativa sem início, meio ou fim sobre os aventureiros... pelos quais não sei ou talvez, não saberei.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poesia

Imaginação...
"A imaginação é a memória que enlouqueceu" M. Quintana

Imaginação de adolescente
/
Vestia túnica branca
Aveludada por dentro
Vestia armadura branca
Que derretia com o tempo
/
Nada de cavalo alado
Apenas honra
Partindo apaixonado
Sangrando por toda Roma
/
Cavaleiro nobre, um amor deixou
De todas as dores piores se poupou
"Salva-te amigo" Indagou desesperado
Até que notou o olhar malvado
/
Acordou, ele finalmente
Em seu peito uma dor
Olhou janela a fora
A gratidão dos olhos do amor
/
Princesa bela, olhos azuis
Sorriso desejado a este coração
Estava lá, vigiando os rouxinóis
Beijou-a por final, mostrou a Paixão
/
(Klaus Castagnotto)
________________________
O outro mundo
"Por favor, deixa o Outro Mundo em paz! O mistério está aqui. "M. Quintana
O Mundo das rosas
/
Venho buscar-te neste lugar
Lugar diferente e prazeroso
Rosas a se encontrar
Perfume vermelho, céu grandioso
/
Sangue e lágrimas
Clima de romance
Você naquela fonte
E eu a buscar-te
/
Feliz te encontrara
Ansioso e viajante
Retiro sua máscara
Vejo o olhar pensante
/
Desvisto minha capa
Estendo-me a ti
Segura minha mão
Agora, vamos partir
/
(Klaus Castagnotto)
____________________
O tempo
"O tempo é a insônia da eternidade." M. Quintana
Tempo
\
Tempo é hoje
Pelo ontem vejo
Ontem não é hoje
Mas também é tempo
\
Tempo de espera
Ele se acresce
Gira aquela esfera
E tudo desaparece
\
A noite cai
Me sobe o pensamento
Tempo vem e vai
Encontro-me por dentro
Para tudo há tempo
\
(Klaus Castagnotto)
______________
A Virtude do Estar
/
A virtude do estar
O vento, a grama
Sempre em seu lugar
Eu aqui escrevendo
//
Palavras do vento
Vem tão lento
Uma brisa sinto
Palavras que não minto
//
A Palavra está onde estiver
Basta plantá-la
Semeie onde quiser
Depois, só animá-la
//
Anime onde vier o vento
Seja a história
O canto
Ou poemas de vitória
/
(Klaus Castagnotto)
Estes foram meus primeiros poemas...
2009

terça-feira, 8 de março de 2011

Sendo fiel ao Blog... (1)

Ora, sim, Carnaval,  mas segunda já se foi e terça também. Creio que, fico impossibilidado de Letrarlhetu, caro leitor.
Mas como ouso sempre dizer: Nunca abandone a literatura.
Sei que não escreverei aqui, mas, ora, quantos livros podem estar esperando...
Não deixe-a de lado.

Volto a escrever segunda feira...
Busco novos leitores...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Gênios I

I
    Estava em decisão. Um velho de aparentes oitenta anos sentava-se na outra lateral da mesa. Seus três alunos riscavam blocos de folhas.
    O colégio interno Mrs. P. R. Moore já abrigara vários alunos geniais, no entanto, nunca três ao mesmo tempo e, se houvesse três gênios, dois inevitavelmente morreriam: aqueles que errassem todas as questões.
    Porém, nenhuma bomba explodiria, nenhum gatilho seria apertado, nenhuma adaga seria adejada. Haveria somente uma forma de manter o sobrevivente.
    O relógio tiquetaqueava vagarosamente no alto da parede. O grafite tracejava as folhas. A penumbra inundava os quatro e a tensão lhes gotejavam nas faces.
    O velho se endireitou e esboçou um sorriso fino na boca desdentada. O coração apertava-lhe o peito abaixo de seu terno negro. Pairava-lhe sob a face um ar perspicaz, astuto e sereno. Os olhos vagos observavam seus melhores alunos.
    Nellinger: Agilmente perpassava os olhos em sua provável ultima prova. As respostas eram dadas numa habilidade surpreendente. Mesmo que a prova não fosse por tempo, ele a preenchia como se fosse. Às vezes mirava os outros rostos. Ele ocupava o lado esquerdo da mesa.
    Edward: Atrás dos óculos fundos-de-garrafa, lia cada questão como máquina e as respondia com igual forma. Seus olhos eram minimizados a um diâmetro como os olhos de um animal pequeno. Na mão desocupada, manuseava uma moeda fazendo prestidigitações de um dedo a outro. Fitava austero seu professor a sua frente. Ed sentava-se no meio.
    Nicholas: O rosto brando mostrava confiança e frieza. Cabelos lhe cobriam os olhos e estes pareciam fechados e pensantes. Ao contrario dos outros supostos condenados, não respondia as alternativas ou sequer as lia. Um sorriso sem importância cobriu-lhe a face. Cerrou o punho e o sorriso dissolvera-se. Ocupava a lateral direita.
    A escola interna fora fundada por volta de 1843 e formava alunos inteligentíssimos. Na maioria das vezes, formava um gênio por ano. Uma rara escola. Os renomes de seus alunos geraram gerações de novos professores, filósofos ou matemáticos. Ou ambos. Mas estes foram logo buscados.
Fillber W. House, quando descobrira uma constelação – por volta de 1852 - antigamente utilizada para previsões e as achava coerentes, fora assassinado por fieis acusado de bruxaria com 38 anos.  
Kord Heiselmann, após relato “absurdo” – segundo governantes - sobre o novo sistema político de 1888 fora condenado a morte aos 22 anos.
    Neil Coffey, depois de descobrir a formula da cura para as infecções causadas pela peste de 1897, fora trancado em laboratório pelo seu aprendiz e morreu de fome. Tinha 19 anos.
    Estes casos de assassínio preencheram folhas de notícias das províncias próximas do instituto e também longínquas. Fill, Neil e Kord foram gênios do colégio há cerca de dois séculos trás, mas estas foram as únicas mortes que se tem noticia. A escola as ocultava, pois tornara-se tradição a morte de seus estudantes formados. Eram inevitáveis mortes, inexplicáveis. Era como se o assombro da morte seguisse aquele com diploma.
    Um dos estudantes menos geniais chamado Norse Winter manteve-se na escola. Somente assim sobreviveria. Norse tornara-se professor, tinha oitenta anos e apenas ele teria a resposta. A oportunidade estava na sua frente. Três jovens. Dois certamente morreriam.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Paixão

No sol vivo acolhendo o mundo na face das três horas me vi deitado, sob um banco traseiro de um carro olhando a urbana paisagem da estrada e o verde natural de campos e com o sabor de uma bala de morango na boca, no aconchego da mais doce garota em meus braços. Seus olhos fechados lembrando a noite de sono acariciavam minha visão com ternura e eu não podia deixar de olhar para aquele rosto submerso num sonho de tarde, leve. Ela se mexeu buscando conforto e acordou. Seus olhos encontraram os meus num brilho indescritível buscando algo e eu acariciei seus cabelos juntamente ao vento frio que tufava em nós, minha mão desceu até o seu queixo e trouxe-a até mim. Fechei os olhos e acho que entrei num sonho, quando seus lábios tocaram nos meus feito mel e me fizeram suspirar...

E assim foi, uma tarde de paixão, sem começo, meio ou fim.
E é tudo o que tenho para narrar-lhes.

Leia também: 


  • http://letrarlhetu.blogspot.com/2011/02/ohayou.html
  • http://letrarlhetu.blogspot.com/2011/03/genios.html
  • http://letrarlhetu.blogspot.com/2011/03/pena.html

terça-feira, 1 de março de 2011

Pena.

Pert, Petrek, Pekpek, Pato e eu chegamos aqui não há muitos minutos, mas já sinto saudade e estou exausto! Ah, como me mata o vento forte frio lá de cima, a terra parece rugir como se fosse um inseto vivo. Vocês podem imaginar como o mar canta junto ao vento uma melodia única na medida em que flutuamos suspenso como o Sol em nossa comitiva. Pert está contente por conseguir peixes, ainda bem: minhas penas se soltaram e eu pareço meu avô Bicodepedra, o danado é depenado, mas ainda vive no alto dalgum lugar lá perto de casa num ninho muito quente, nem tem forças mais para viajar conosco e além de tudo estou faminto.
Para deixar os lagos do norte foi uma confusão que só! Mamãe quase não deixa Pekpek vir. Achara que seria perigoso e ele é um desastrado. Já salvei sua vida duas vezes nessa viagem, mas ele está felicíssimo brincando com as borboletas nesse momento, onde a Lua foge das montanhas perigosas como minhoca que acabou de nascer:
Abismado com a noite - há doze luas atrás, creio -, nós estávamos dilacerados por voar o dia todo então resolvemos nos abrigar na relva dum rio largo e bravo que rasgava uma cidade, mas nos mantemos distantes daqueles moradores. Pekpek, então, entusiasmado com a viagem, ficara rasante sob o rio. E juro, juro que vi patas surgirem da água para agarrar-lhe e como o bote duma cobra, saltei de meu galho e biquei-lhe o cocuruto para parar. Quando contei para o Petrek o que havia acontecido eles grasnaram tanto de minha cara que quase botaram ovos, céus!, nunca mais venho por aquele rio. Senti calafrios. A outra vez em que salvei a vida dele, não tem três luas. Velozes, batíamos asas, ansiosos em encontrar algum lugar para dormir. Pato que conhece aquela região nos guiou à frente da rota. Em poucos instantes, reboaram da terra estouros que nos fez gritar assustados. Saímos do nosso fluxo seis vezes em pouquíssimos instantes por causa dos projéteis que zuniam da terra e fustigavam o ar num canto errôneo e lá estávamos em desespero, mas Pekpek viajara apenas entre a área das árvores afastadas até os pastos lá na nossa terra. Jamais estaria apto a desviar dos tiros, então tive que ajudá-lo: Fugitivos de um cano de ferro, esferas negras riscavam o céu procurando nos acertar. Constantemente tive que lançá-lo para baixo do fluxo para que sobrevivesse e é por isso que estou exausto.
Gostaria de contar mais da viagem. Na verdade gostaria de contar como fora minha aventura inteira desde os campos, que agora, imagino, estão gélidos e esbranquiçados como a minha pluma. Mas agora o jantar está posto e não posso continuar contando-lhes o que houve quando Pert e eu sobrevoamos as áreas montanhosas e nos deparamos com Águiamenor, a tirana. Muito embora fosse má, vi através dos olhos de conta dele que se apaixonaram. Mas agora devo ir-me realmente se não Pert surta e desmaia para Urubus, já pensou se isso acontecesse?
Não quero nem pensar...
A Aventura que fique na memória e acho que vou gravá-la bem para contar para o meu velho avô Bicodepedra como foi. Deve ser bom lembrar-se dos antigos tempos. Acho que é a mesma sensação de voar com penas renovadas após um banho sob um lago cristalino e verde, no verão, é claro.

E assim, foi uma viagem dos seres cujo sonhamos ser por apenas um instante: Pássaros. Onde não se tem fim, ou meio ou começo.
E é tudo que tenho para narrar-lhes

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ohayou!

 Com olhos semicerrados observando através da pequena janela acima do tatami, viu o novo sol oriental recém suspenso no céu mareado. Levantou-se à custo esfregando o rosto amaçado ainda sentindo o corpo que achava que estivesse deitado. Um bocejo ficou no ar com o bafo adormecido e ele caminhou com os pés descalços ao banheiro para lavar o rosto. Fitou-se no espelho e deu um sorriso forçado, como se posasse para uma foto, delineando os olhos puxados. Desgrenhou os cabelos negros com água sentindo fruir o tato gélido despertador. O aroma de gohan embreagáva-o à ponto de despontar água de sua boca, como faz o riacho com fios da água mais pura. Secou o rosto e caminhou pelo chão frio em busca da comida.
- Ohayou Gozaimasu - dissera sua mãe sentada à ponta duma meseta baixa.
- Ohayou - respondera ajoelhando-se diante da mesa.
Escutou os estalidos, retinidos e o vozerio do lado de fora de sua casa enquanto servia-se para o café da manhã. Retirou um pauzinho do lado de sua tigela e partiu-o em dois hashis, que antes de serem colocados no gohan, este fora agradecido:- Itadakimasu!
A comida invadiu-lhe a boca como faz a chuva em seca, salgado revigorando-o. Fitou sua mãe assistindo-lhe e continuou comendo.
Momentos depois, sua mãe ficou ao pé da montanha na entrada do vilarejo vendo-o diminuir conforme avançava correndo, perpassando entre o vento invisível sentindo o cheiro da dura terra do chão e se esforçando para passar pelo carroceiro cujo chapéu cobria-lhe o rosto. E assim, foi uma manhã oriental na qual não se tem fim, ou meio ou começo.
E é tudo que tenho para narrar-lhes

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